terça-feira, 26 de setembro de 2023

A fraqueza que me fez forte

Ser forte, é nunca assumir o papel de vítima, é não precisar de abraço ou abrigo. E como poderia ser diferente? Se mesmo quando era o elo mais frágil, sendo uma criança, teve de agir e ser o elo mais forte a fim de sobreviver, e sendo o elo mais forte não tinha abraço e nem abrigo. Ser forte era fingir que estava tudo bem. Precisava ir a escola e fingir que não tinha passado a noite em claro, precisava fingir que não vivia 24 horas do seu dia com medo, não queria que ninguém soubesse de toda violência, de toda violação. É solitário ser forte. As pessoas te dispensam em prol do elo mais fraco, afinal sua exposição ao mundo é de fraqueza e dependência. Não há solidariedade para as dores invisíveis e silenciadas. Ser forte dói e é exaustivo. Ser forte é murmurar a dor enquanto a fraqueza grita. É sorrir com os olhos enquanto chora o coração. Ser forte é silêncio, é solidão, é não ter abraço e não ter abrigo. É ter de ser abraço e ser abrigo enquanto por dentro se é abismo.

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Depressão, ela pode pegar você!


Esse é um texto que escrevi em 2009.

Dia típico, relógio desperta na cabeceira da minha cama, aquele som agudo continuo me tira dos meus sonhos, depois de alguns segundos, abro meus olhos e percebo o que está acontecendo.
Estou viva!

Mais um dia está começando, levanto meio sonolenta, lavo meu rosto, me olho no espelho e não reconheço aquela imagem.

Pego qualquer roupa, porque nenhuma me agrada mesmo e sigo para meu trabalho.

Em frente ao computador digito, digito, digito, faço algumas contas, respondo e-mails, atendo algumas ligações, e de repente me perco em meus devaneios, fico ali, imóvel, com um olhar fixo e perdido, somente meu corpo presente.

Ouço alguém me chamando, essa voz me traz de volta, é alguém me perguntando alguma coisa que nem presto atenção, simplesmente respondo que não sei.

De volta me pergunto, qual o sentido disso tudo?

O que estou fazendo aqui?

Por que tenho que estar aqui?

Me sinto uma idiota aqui sentada, digitando, lendo, calculando. É isso que eu faço, mas por quê?

Não quero fazer isso.

O relógio parece ir contra minha vontade como se estivesse rindo do meu desespero, insiste em não andar, me torturando cada vez mais.

Ufa. Hora de ir embora.

Chego em casa fico ali parada. Do mesmo jeito que cheguei, só esperando, pensando, perdida dentro de mim mesma.

Opa, dessa vez o relógio correu, tenho que ir para a aula.

Cheguei, sento-me ali, naquela mesma cadeira, sim, na mesma há 3 anos.

Fico ali olhando pra aquela figura a frente da sala a qual denominamos professor, ele fala, escreve, faz umas piadinhas sem graça, e estou ali, sentada olhando pra ele. Para que? Por que?

Não quero saber do que ele está falando.

Não quero estar ali!!!

Sem paciência nenhuma, junto minhas coisas e vou embora.

Fico rodando, sem vontade, volto pra casa e vou pra cama.

Quero dormir, quero que este dia acabe logo, mas se ele acabar logo, significa que amanhã terá um outro, inteiro, com todas aquelas horas!

Não!

Quero ficar aqui, na minha cama, quietinha, não quero ver ninguém, não quero sair daqui, não quero trabalhar, nem estudar, quero dormir e sonhar.

Estou protegida nos meus sonhos.

Quero uma noite eterna!!

O sono não vem, saio, encontro umas pessoas que falam de si, falam dos outros, ouço bastante e falo pouco, tomo uma cerveja, mais uma, de repente me sinto melhor.

Uma vodca, humm agora sim, já consigo contar uma piada e cair na gargalhada com qualquer bobagem, uma dose de uísque, poxa quanta gente interessante neste lugar, eu poderia morar aqui.

As horas passam depressa, mais um ou dois drinques, que fantástico, tenho tanto a dizer, são tantas as risadas, é tudo tão divertido, minha barriga dói de tanto rir.

Hora de ir embora, poxa que triste, despedida com promessa de marcar a próxima.

Volto pra casa e durmo sem nenhuma dificuldade a noite toda!

Ai, minha cabeça dói, esse relógio desperta cada dia mais alto, o som agudo parece facadas em minha cabeça.

Hora de levantar?

Não!

Estou com sede, dor de cabeça e sono. Outro dia daqueles não!

Quero ficar aqui até anoitecer, depois voltar para aquele bar, reencontrar aquelas pessoas, tomar algumas doses, voltar e dormir...

Dormir até o dia em que eu for consumida pelos meus sonhos e não mais acordar!