terça-feira, 4 de setembro de 2012
Alguma vez você já quis parar o tempo, congelar um momento, eternizar um sentimento?
Faz três horas e três minutos que estou olhando pra tela em branco e não consigo escrever. Minha cabeça está a mil, ficou assim o dia todo e quando estou assim preciso escrever.
Estou aqui há horas censurando as palavras, indecisa, procurando a melhor maneira de começar.
Eu não sei se usar a primeira pessoa seria ideal, talvez devesse usar a terceira, mas logo eu que sempre admirei as palavras escritas com emoção, eu que sempre fui fascinada por ler e conseguir sentir a emoção que foi derramada em forma de literatura...Logo eu, estou com medo de me traduzir em palavras.
Talvez não seja medo, talvez seja somente dúvida, porque ainda não consegui me definir, sinto um nó em mim, e esse nó não desata, nem em tristeza, nem em felicidade.
Há momentos em que ele quase desata, ele pende muito pra tristeza mas há momentos em que ele quase explode pra felicidade.
Uma vez conheci uma menina que inventava amores e dores pra sentir, uma menina que adorava sonhar. O melhor momento do dia para ela era quando deitava, fechava seus olhos e então criava as cenas em sua cabeça, sonhava acordada mesmo, sonhava com tudo que não viveu, com tudo que não tinha, com tudo que jamais viria a ser e com tudo que secretamente desejava viver, ter e ser.
Em uma segunda feira fria ela veio me visitar e começou a falar de seu quase amor. Eu imaginei que mais uma vez ela iria dissertar sobre a personagem que ela criou para amar e sonhar, feito com melodia e som de violão, com cheiro de roupa limpa e gosto de sonho que não se quer acordar. Mas eu estava errada, ela queria me falar de um quase amor novo, diferente e ao mesmo tempo igual.
Eu estava sentada no sofá olhando pra ela, que dê costas para mim se olhava no espelho enquanto falava, como se quisesse se convencer ou mesmo entender suas próprias palavras. E ela perguntou, não sei se pra mim ou se pra ela mesma: "Alguma vez você já quis parar o tempo, congelar um momento, eternizar um sentimento?". Sem me dar tempo para responder, ela continuou a falar:
"Ele, ele cuja existência tinha a mesma relevância de um poste, uma pedra, um cisco, uma bituca de cigarro caída ao chão. Isso mesmo, se não fizesse esforço não era
possível notar sua presença, sua existência. Ele que não se fazia notar.
De repente uma sucessão de acontecimentos inusitados fizeram com que ele fosse notado, visto, sentido, desejado, amado. Eu o amo. Mas eu nem sei qual o seu lado
preferido da cama, não sei qual seu humor pela manhã, não sei qual é sua cor preferida, não sei se gosta mais de doce ou salgado, se prefere quente ou frio, eu não conheço suas manias, nem seus medos, não sei do seu passado. Mas eu sei que seu cheiro é suave, sei que seu abraço é doce, seu beijo tem gosto de romance, seu sorriso é de menino. Sei que ele faz gelar minha barriga, comprime meu estômago, faz com que me falte o ar, me faltem as palavras, me falte o chão. Ele me faz rir com os olhos e redescobrir em mim um coração.
Gosto dos olhos dele, da boca, das mãos, da voz, das palavras, do riso, do andar, dos gestos...Me sinto presa a todas essas sensações que aprendi a sentir, me sinto escrava dessas emoções que descobri, não consigo deixar de querer sempre mais e mais, como se eu quisesse esgotar esse estoque de sensações. Eu só queria mesmo era parar o tempo quando estou com ele, congelar nossos momentos, eternizar esse sentimento porque eu nem mesmo sei qual parte dessa história é verdade e qual parte eu inventei, eu não sei depois de quantas vírgulas surgirá o temido ponto final. Mas eu confesso que já sonho com ele e já sofro por uma nova perda novamente e tão logo sinto saudades de tudo de bom que vivi e já lamento por não viver mais. Já estou a frente do presente..."
Finalmente ela olhou pra mim, e eu pude ver as lágrimas escorrendo pelo seu rosto, era um choro triste, silencioso, e seus olhos refletiam mais um sofrimento inventado. Quando eu ia falar algo para tentar confortá-la, ela correu sem olhar para trás e eu fiquei ali sentada, pensando em tudo que ela tinha me dito e em como era possível alguém viver assim, inventando amor, inventando dor.
Como era possível alguém se antecipar aos fatos e sofrer no presente uma dor que supostamente irá sentir no futuro. Eu não consegui entender, nem imginar como seria
viver como ela.
Mas em uma coisa ela tinha razão, todo mundo pelo menos uma vez na vida já quis parar o tempo, congelar um momento e eternizar um sentimento. É uma pena que ela ao
invés de lutar por isso sempre acabava inventando uma nova dor para sentir e preencher o lugar que deveria ser do seu quase amor para quem sabe um dia ele finalmente deixasse de ser "quase".
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